Outubro de 2013
Na classe média das grandes cidades, as nossas crianças, de forma geral, são criadas num referencial de família muito frágil, com os dois pais no trabalho, o trabalho distante da casa e casais frequentemente separados.
Para potencializar este isolamento, nos dias de hoje, por questões de segurança, as crianças crescem ainda mais isoladas do mundo, quando não estão na escola. Antigamente, a vizinhança era um cenário de início à sociabilidade. Hoje, é raro os pais permitirem que seus filhos brinquem na rua, considerada o lugar da violência, da má influência, dos acidentes, o lugar do medo. As crianças são protegidas, mas quando elas são inseridas no mundo?
Um ponto determinante é que as políticas urbanas foram elaboradas para a faixa etária superior, e é como se as crianças não fizessem parte deste mundo. A criança praticamente só existe dentro do “mundo familiar” e do “mundo da escola”, mas onde está o direito dos pequenos?
Política de gente grande
De acordo com Laidslau Dowbor (consultor da ONU), isso deve mudar. Para ele, em muitos lugares com políticas urbanas integradas e desenvolvidas, há crianças, que às vezes com apoio dos professores, estão arregaçando as mangas e começando a tomar iniciativas organizadas.
Na Itália, por exemplo, houve um movimento de crianças pela recuperação das praças. Um filme-reportagem feito por elas próprias mostra a passeata, a negociação com a prefeitura e o resgate progressivo de praças transformadas em estacionamento, para que voltem a ter água, árvores, espaço para brinquedos e jogos, uma dimensão de estética, de lazer, de convívio.
Em muitas cidades também já há câmaras-mirins, e não se podem aprovar projetos de espaços públicos sem atender o interesse declarado pelas crianças. Em alguns locais da Europa, foram organizados trajetos seguros, acompanhando as principais rotas das crianças entre as escolas e lugares de lazer, parar melhorar a sua mobilidade e sentimento de liberdade na sua cidade.
Com essa abertura, as crianças podem sentir de fato o seu direito à cidade e à cidadania. Elas merecem.
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