Verticalização, a princípio, é
uma solução para as grandes cidades. Mas condensar edificações é também
condensar pessoas. E quanto mais próximos os indivíduos ficam entre si mais
provável é a geração de conflitos.
Os primeiros aglomerados urbanos
da humanidade surgiram por conta da mudança dos parâmetros de sobrevivência
humana. Substituindo a caça, o homem começou a produzir alimentos através da
agricultura. As trocas, que depois dariam surgimento ao comércio, estimularam a
proximidade de comunidades que permutavam produtos agrícolas, ferramentas, utensílios
domésticos e etc. Até hoje, a existência das cidades favorece seus habitantes a
usufruir dos bens materiais e imateriais que conseguem produzir
coletivamente.
Então, enquanto você estiver
preso no trânsito, ou com dificuldades para atravessar a rua, ou com raiva do
som no bar vizinho, ou incomodado com a poluição do ar, lembre que esse é custo
que está pagando para usar os benefícios que uma grande cidade oferece: mais
empregos, melhores instituições de ensino, acesso a produtos e serviços, mais
opções culturais e de lazer e por aí vai.
Mas vale lembrar que quanto maiores
os números de conflitos, menos eficientes tendem a ser os órgãos reguladores
na gestão do espaço urbano. E, teoricamente, quanto maior a cidade, maior
também é a quantidade de recursos advindos de impostos para se investir na
resolução destes mesmos conflitos. Dessa forma, esse tipo de problema já não
afeta somente grandes cidades mas também cidades médias e pequenas, em função
da má qualidade da gestão ou a falta de recursos econômicos.
Em termos técnicos, qual é a
vantagem da verticalização para a cidade? Na gestão pública, mais pessoas
vivendo e trabalhando em uma área menor do território significa menos gasto com
obras de infraestrutura para distribuição de água e energia, descarte de lixo e
esgoto, vias de circulação e transporte público e etc. Essa premissa é
verdadeira desde que a capacidade de infraestrutura instalada seja respeitada.
A verticalização se torna
interessante também para as construtoras, incorporadoras e compradores, pois um
terreno de localização privilegiada pode atender a um maior número de pessoas e
com um custo menor, quando as edificações são adensadas em torres.
Conflito de interesses
Por outro lado, a cidade não pode
se orientar apenas por parâmetros técnicos ou econômicos, há as questões
ambientais, sociais e culturais que devem ser consideradas na tomada de
decisões. O verdadeiro desafio está no
sucesso em atender o crescimento e novas demandas da cidade sem gerar conflitos
ou aos menos os contornando.
Até que ponto que esse adensamento
e essa verticalização vão continuar agradando, por exemplo, nosso bairro? Mais
prédios novos e bonitos, mais opção de comércio e serviços, porém, juntamente
com essas vantagens, chegam os conflitos e, se não forem contornados e o caos
for tomando conta, a tendência é o bairro começar a entrar em um processo de
desvalorização e decadência, como ocorreu em alguns pontos do centro da cidade
ao longo dos anos.