Moradia social, um problema de todos

Janeiro de 2014


O Chile, o nosso vizinho, já começou a implantar essa solução semelhante há 40 anos, e hoje percebe o equívoco urbanístico-social gerado na criação de guetos dos pobres.

Famílias constroem suas moradias em terrenos vazios que não lhes pertencem, com o fim de exercer o mais elementar dos direitos humanos: a moradia. Apesar de a Constituição brasileira sustentar a moradia como princípio básico do indivíduo, este direito não é proporcionado a uma porção considerável da população.

Os excluídos se veem na obrigação de arrumar uma alternativa. O que você faria na situação deles? Esperaria cair do céu uma solução inesperada do governo? Ou “mexeria os seus pauzinhos” para resolver o seu problema? A resposta é óbvia porque a autoproteção de um homem e de sua família é instintiva. Sim, você ocuparia uma propriedade alheia. Apesar de te chamarem de vagabundo, você sabe que mesmo com o suor do seu trabalho você não irá conseguir adquirir sua casa, dentro da cidade formal, com “papel passado”.

Colocando-nos no lugar dessas pessoas, conseguimos deixar de lado o comportamento relapso de ignorar a pobreza e repelir a favela. Os jornais praticamente só noticiam as tragédias nos morros e nos becos, não conhecemos a realidade da vida dessas pessoas, que vivem sem uma infraestrutura adequada de acessos, iluminação pública, distribuição de água e descarte de lixo e esgoto. As novelas só mostram cenários com paredes sem reboco, mas escondem os inúmeros problemas que existem por trás dos muros de tijolo aparente.

A política mais importante para o campo da habitação hoje, o programa “Minha casa, minha vida”, resolve de forma desarticulada o problema da desigualdade social. Parece muito nobre dar moradia para quem não tem, mas só isso não resolve, pois muitas famílias que recebem ou financiam o imóvel não conseguem fazer um planejamento familiar e financeiro para estabelecer sua vida ali. Dessa forma, muitas vezes estes imóveis, que se tornam propriedades particulares, são usados como moeda, para solucionar os problemas da família.

Inevitavelmente, o programa tem um interesse econômico forte, assim como várias obras do Programa de aceleração do Crescimento (PAC), que visam movimentar a economia no setor da construção civil. A incoerência é que o programa que carrega no nome um interesse social fica estritamente dependente do mercado, sem avançar tudo que deveria na diminuição das desigualdades.

Uma lógica muito repetida na solução de produção de moradias, pelo famoso programa do Governo Federal, é a implantação das edificações em terrenos localizados nas periferias, o que reforça ainda mais o abismo social. Os mais pobres, com menos alternativas para sua locomoção, ficam obrigados a se deslocar para trabalhar e para ter acesso aos serviços urbanos de educação, saúde e etc.

É bom lembrar que o Chile, o nosso vizinho, já começou a implantar essa solução semelhante há cerca de 40 anos, e hoje percebe o equívoco urbanístico-social gerado na criação de guetos dos pobres que, ao invés de criar um lar para as famílias, criou alojamentos precários. 
    

Consequências



A moradia social mal planejada influencia em várias outras políticas públicas, como saúde, educação, segurança, meio ambiente, ordenamento territorial e mobilidade urbana. Uma casa sem água tratada e esgoto é frágil na transmissão de doenças. Uma criança que não dorme em um local adequado fica prejudicada para assistir as aulas. Moradias muito longe dos centros de comércio e serviços geram muita demanda para o transporte. A ausência de um ordenamento territorial pode gerar uma desordem para a segurança. Desarticulação e insustentabilidade: não é o caminho correto.