Julho de 2014
Em pouco mais de 50 anos, saímos de um país majoritariamente rural para um país que apresenta mais de 80% de sua população urbana. Como esse processo aconteceu com pouco planejamento (ou em muitos casos nenhum), hoje pagamos o preço pela favelização e o caos urbano que toca diversas questões: mobilidade, distribuição de água e energia, coleta e destinação de lixo e esgoto e etc.
Em pouco mais de 50 anos, saímos de um país majoritariamente rural para um país que apresenta mais de 80% de sua população urbana. Como esse processo aconteceu com pouco planejamento (ou em muitos casos nenhum), hoje pagamos o preço pela favelização e o caos urbano que toca diversas questões: mobilidade, distribuição de água e energia, coleta e destinação de lixo e esgoto e etc.
Mas através dos erros de nosso passado
devemos fazer uma leitura crítica do que foi falho e trabalhar na construção de
estratégias exeqüíveis para o futuro.
O que é Planejamento Urbano?
Planejamento Urbano não deve ser
confundido com o projeto de uma cidade, pois o projeto tem menos compromisso
com suas implicações, ao contrário do planejamento que busca visualizar a complexa
rede de interferências da cidade e prevenir suas ameaças. O Planejamento Urbano
é um processo contínuo que precisa periodicamente de revisões, já um projeto
muitas vezes é apenas uma idéia desejável, mas não tem o empenho de pensar na
amplitude de seus impactos, vou dar um exemplo: Empreendedores que decidem fazer
o projeto de um shopping estão preocupados com a viabilidade financeira do
negócio, e na maioria das vezes essa é a única preocupação que orienta o
processo, em torno da solução deste único quesito: o lucro dos investidores.
Porém um shopping pode gerar impactos negativos para seu entorno imediato, para
uma regional da cidade, ou até mesmo
para uma cidade inteira. Por isso a prefeitura deve regular esse processo, para
que o empreendimento viabilize somente onde a lei já prevê o estabelecimento de
grandes instalações, e o processo deve ser orientado para amenizar possíveis
impactos.
O Planejamento Urbano fica vinculado
ao poder público (sobretudo a prefeitura), que tem o dever de orientar a
legislação urbana e os trâmites para a organização da cidade.
Uma das principais ferramentas do
Planejamento Urbano é a "Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS)". Esta
lei, que é específica para cada cidade, determina principalmente qual é o tipo
de uso (residencial, comercial ou industrial) pode existir em cada bairro ou
região, também é definido pela LUOS o porte (pequeno, médio ou grande) das
unidades e a possibilidade de verticalização e adensamento.
A ordenação da cidade, fica vinculada
à burocracia, para a aprovação de projetos, com a limitação de área construída,
altura e etc. Aos olhos comuns essa burocracia é vista apenas como um aspecto
negativo, um empecilho aos interesses particulares. Mas realmente o ponto
positivo dessa "burocracia" é justamente o fato dela frear os
interesses particulares, pois estes muitas vezes interferem nos interesses
coletivos.
A Constituição Brasileira (1988)
introduz na legislação brasileira o conceito da "função social da
propriedade", e nos proporciona a leitura de que mesmo que uma pessoa seja
proprietária de uma gleba, lote, ou edificação, ela não possui autonomia para
fazer o que bem entender de seu imóvel, porque dependendo da destinação de uma
propriedade particular esta poderá intervir na vida de outras pessoas. Não é
difícil pensar em usos conflitantes de uma propriedade, imagine uma fábrica de
carvão próximo a um parque, ou um arranha-céu
fazendo sombra em dezenas de casas em um bairro residencial.
Sabe-se que a legislação urbana é freqüentemente
burlada, o "jeitinho brasileiro" é muito comum, independente da
classe social. Essa é mais uma das várias conseqüências da impunidade no
Brasil. Inclusive vale lembrar que há também a impunidade dos gestores públicos
que rompem com o Planejamento Urbano, desrespeitando os Planos Diretores e
alterando leis urbanísticas em favorecimento de empresários, muitas vezes através
de subornos.
É desanimador para nós brasileiros,
quando vemos o quadro político no país, mas se queremos um futuro melhor para
nossas cidades precisamos aproximar a sociedade civil ao tema do urbanismo, que
ainda é muito preso às universidades, aos especialistas e consultores, que
elaboram os planos, e aos políticos que seguem, ou não, o que foi planejado.