Outubro de 2016
Estudiosos relatam que após a
Revolução Industrial houve uma reestruturação social e nos costumes modernos. O
surgimento de tecnologias de comunicação e transporte se justificaram como uma
nova necessidade moderna de otimizar o tempo, mas geralmente o tempo ganho em
certas atividades acaba sendo substituído por outros afazeres. Assim o homem
moderno está frequentemente ocupado, independente do avanço das velocidades que
a tecnologia proporciona.
Desde então a atividade humana
que recebe maior importância é o trabalho, um forte indício é quando se
pergunta a um adulto sobre o que ele faz da vida, usualmente sua resposta é a
identificação de sua atividade laboral. Mas cientistas sociais dizem que no
fundo todo trabalhador vive um conflito, pois ao mesmo tempo em que assume a
importância do trabalho deseja o repouso de suas tarefas para usufruir um tempo
para si. Se tempo é dinheiro, há uma tendência de se substituir o tempo livre
pelo consumo, pois visto como uma perda de tempo, o ócio aparentemente pode ser
menos vantajoso que a oportunidade de fazer compras ou de gastar com
experiências agradáveis para si.
O esforço de ganhar dinheiro
através do trabalho acaba sendo compensado por aquisições que irão minimizar o
cotidiano desgastante. Assim se compra carros confortáveis para se deslocar,
casas bonitas e agradáveis para aproveitar o pouco tempo que se passa na
residência, além de outras formas de consumo que transmitem a sensação de bem
estar cotidiano, como vestir-se bem e cuidar da aparência. Outra forma de
recompensar o trabalho é através do consumo de experiências prazerosas como ir
a restaurantes, cinemas ou viajando.
O que acabo de descrever são
situações comuns aos cidadãos urbanos, e àqueles que não estão de bem com sua
qualidade de vida precisam respirar fundo, meio à correria moderna, para
refletir. O trabalho e o consumo não devem atingir um ciclo vicioso, em que as
pessoas se desgastam muito para poderem consumir aquilo que não é essencial. E
aquelas pessoas que não trabalham intensamente, mas também não passam
necessidades, não devem se afligir tanto pela tentação de poderem consumir
mais, o ideal é achar um ponto de equilíbrio entre suas condições financeiras e
um cotidiano agradável.
A verdade é que a felicidade
genuína está no ponto de equilíbrio, um grande exemplo pode ser extraído de
estudos populacionais. A Dinamarca, considerado o país mais feliz do mundo,
apesar de estar longe de ser o país mais rico ou o que tem os padrões mais
elevados de consumo, consegue proporcionar uma qualidade de vida diferenciada
para seus cidadãos.
Como urbanista, não posso deixar
de lembrar que a Dinamarca investe muito na qualidade de seus espaços públicos,
que juntamente com jornadas de trabalho reduzidas, estimulam os habitantes a
usufruírem das opções de lazer gratuito e maior tempo livre para a família e
amigos. O ócio e lazer são necessidades humanas, não podem ser substituídas
pelo consumo, e o trabalho também é importante, mas não pode ser alienante a
ponto de repercutir na saúde e qualidade de vida das pessoas.